Folhetim | por Licínia Quitério – “Casa de Hóspedes” (18º. Episódio)

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FOHETIM

Casa de Hóspedes (18º. Episódio)

O se­nhor doutor era um exemplo para outros profes­sores mais novos, mais fraquitos, alguns com ideias de liberdades e independências e porras dessas que só lhes baralham as ideias e até já ouvi um dizer que bater nos putos não, que tal, que o respeito não é assim que se consegue, que palavras muito bonitas e tal de compreensão e afecto, merdas, que depois nas aulas é que se vê quem os mantém na linha, pianinho antes que dê para o torto. Um homem a sério, este senhor Dr. Gonçalves Branco.

A D. Adélia, no seu papel de contínua, tinha, nesta altura do ano, uma apoquentação que a fazia fungar desalmadamente, uma trabalheira a aturar aqueles gandulos, não sabem andar, só dão pulos como os macacos, não falam, guincham, são macacos mesmo, sei bem que me chamam a ovelha branca, não há respeito pelos mais velhos, ao que chegámos, a dona Gracinda acha muito engraçado, devia ser com ela, tem a mania de lhes chamar meu filho, meu querido, e festinhas na cabeça, e assim às vezes os leva à certa, comigo não, faço logo queixa ao senhor director e pouca confiança que esta miudagem vem para aqui sem educação de raça nenhuma, e eu estou farta, quem me dera não precisar disto para nada, mas a vida tem sido madrasta e se não estiver na escola fecho-me no meu quarto, não é que a Dona Júlia não seja simpática, mas quem me dera numa casa minha, com a chave da porta só para mim, já o Sr. Mário, com uma casa dele, com mulher e filho, larga o ninho e vem viver numa casa de hóspedes, vejam lá como são as coisas, anda tudo às avessas, ninguém sabe para o que está guardado.

Findou o ano lectivo, o calor apertava na cidade e a Nandinha, graças aos bons ofícios do Gil e às suas explicações, lá conseguiu passar o ano, com um miserável nove a Mate­mática, mas o que é preciso é passar, dizia a mãe Adelaide, enquanto preparava mais uma torta de laranja que iria inteirinha para adoçar a boca ao Gil, bem a merecia, sim, que se não fosse ele nem a miúda passava da cepa torta nem ela, Adelaide, se sentiria assim animada, o que lá vai lá vai, tristezas não pagam dívidas.

(continua)

 


Pode ler (aqui) as outras crónicas de Licínia Quitério.


 

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